De quando eu ainda queria ser escritora. Essa song-fic (😛) eu escrevi baseada na música "GG be" do Seungri (maknae) do Big Bang; se vocês forem ler a história e comparar com a música, eu usei muitas referências. A intenção do conto, que tem mais de 5 anos, era falar um pouco de relacionamentos abusivos. Vocês verão que o Victor é praticamente maníaco, controlador e paranoico; enquanto a Jennie é distante, fria e, muito potencialmente, infiel. Boa leitura!
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Ele a ama. Mas dói um bocado presenciar mais uma prova de mais uma mentira.
Victor
estava animado, era aniversário de Jennie. Seria o momento ideal
comemorarem juntos; tanto tempo de namoro, tantas brigas... poderiam
ter algum momento de harmonia, um com o outro e nada seria melhor do
que comemorar o aniversário ao lado de quem se ama. Mas Jennie disse
que não, não daria para ela se encontrar com ele após o trabalho.
O dia havia sido cansativo, tanto que o pai dela iria buscá-la no
trabalho, acredita? Ela sentia muito, mas a saidinha dos dois teria
de ser em outro momento.
Todavia,
ela estava dançando na pista iluminada de luz monocromática, seus
braços pálidos levantavam-se, balançando o tomara-que-caia preto
folgado. Ela parecia contente, até
demais.
Seu cabelo, por algum motivo — talvez a pressa de sair de casa —,
estava um caos. Mesmo assim, para desgraça de Victor, estava
estupendamente charmoso; o coque solto preso por uma liga larga
marrom e as mechas do cabelo despenteado estavam uma desordem.
A
expressão dos olhos de Jennie passaram do vinho para água (ou da
felicidade e excitação para espanto, como preferir) quando viu
Victor, seu namorado, parado na escadaria que dava caminho para a
pista da boate, parado, observando-a dançar.
—
Te trouxe um mocha
cake
— "seu favorito", quis acrescentar enquanto entregou-lhe
o pedaço de bolo em uma caixinha de plástico transparente.
"Seja
sincera", a
mente dele choramingava.
Jennie
pegou, sussurrando um "oh" e guardou no bolso de seu short.
Puxou Victor para dançar. Ela não ligou para o bolo, ou para
Victor, ou para nada.
Sempre
que esse tipo de cena acontecia — e se repetia, dela ignorar sendo
flagrada em uma mentira — Victor imaginava Jennie fazendo uma
dancinha desanimada e sem graça com os braços e calcanhares.
Olhar
para ela fazia sua raiva nascer — e crescer — mas mesmo assim,
ele continuava a gostar dela, ainda mais, muitas vezes.
E
quando ela o beijou, fez a raiva diminuir, nem que fosse apenas um
pouquinho.
Às
quatro da manhã, após o término da festa, Jennie comia, com os
dedos, o bolo que Victor havia lhe dado de presente.
Querendo
ou não, Victor amava ver Jennie comendo, como ela degustava cada
pedaço, cobertura e confeito do mocha
cake,
como chupava o recheio do doce dos dedos com satisfação, como
sujava o rosto — e mesmo assim sujando mais ainda e ocasionando
num sorriso tolo em seus lábios tão beijáveis —, como Victor
via pelos olhos dela que tinha conseguido agradar a sua garota.
Jennie
era sensacional... Quando queria. Sempre com os outros e quase nunca
com Victor. Prova disso foram as inúmeras vezes que ela fora vista
conversando com outros rapazes de um modo muito sugestivo, sempre com
sorrisinhos e risadas forçadas e suas mãos batendo nos braços
musculosos deles com certo entusiasmo exagerado, mas com Victor, a
história era outra, era de uma ignorância desnecessária, gritando,
empurrando, humilhando
e sempre discutindo, mesmo com todos sabendo, inclusive a própria
Jennie, que Victor não merecia tal deslealdade.
—
E aí? — Victor finalmente havia criado coragem para poder
questioná-la.
—
E aí, o quê?
—
Como assim o quê? — A raiva começara a colorir o rosto dele de
mágoa. — Suas mentiras, Jennie.
—
Eu menti? — Cobertura de café sujava o lábio superior de Jennie,
angustiando Victor. — Quando?
Victor
sentia raiva, beirando ao ódio quando Jennie reagia desse modo
quando questionada, era sempre
assim,
sempre reagia da mesma forma: indisciplinada, indiferente e fazendo
com que os olhos de Victor ardessem de frustração.
Ele
não aguentou e pegou o lenço que tinha no bolso e limpou a boca de
Jennie, os lábios recém limpos formavam um sorriso sádico e óbvio
no rosto da moça.
—
Hoje, Jennie! Hoje! — Victor pegou a caixa vazia do colo de Jennie
onde trouxera o bolo, e apertou com tanta força que o plástico se
contorceu. — É o seu aniversário, o aniversário da minha
namorada e eu... eu queria apenas comemorá-lo com você! Mas...
Olha, o carro preto que te deixou nessa boate não
era o do seu pai.
E
ele olhou para sua namorada e soube que houve algum impacto. Afinal,
não era mais ela quem obtinha o controle daquela situação.
Jennie
levantou-se: — Você deve estar se confundido.
—
Não estou. Eu te vi saindo do carro.
—
Tá, eu não queria lhe falar, mas... Papai trocou de carro.
—
Eu não acredito que você chame seu pai daquela forma, meu amor.
Falar
isso fez seu coração se desmanchar como tinta na água, e também
fez com que Victor se sentisse a pessoa mais insignificante do mundo,
pois o modo como Jennie reagiu não foi indiferente como sempre. Ela
havia sido desmascarada, dessa vez não tinha como fugir disso, como
as outras vezes. Victor a pegou, de fato, em uma mentira. Algo dentro
dele, alegrou-se com isso, dessa
vez,
ele quem ganhou de Jennie. E parte dele, ainda tinha a esperança de
que ela estivesse falando a verdade e ele estivesse apenas enganado.
Com
um olhar amargo, Jennie empurrou o ombro de Victor e foi embora, sem
nem mesmo agradecer pelo bolo — ou, ao menos, parar para se
despedir do namorado. Victor jogou a caixa melada de doce no asfalto,
deixando o restante do mocha
se espatifar contra a rua e a chutou com força para longe.
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Houve
uma vez, que Victor havia seguido Jennie uma outra ocasião antes da
cena relatada acima. Ela havia sido mais esperta e disse a Victor
que não sairia com ele, pois iria se encontrar com uma amiga de há
muito tempo, no Café em frente à casa dela.
Por
algum motivo, Victor não acreditou. Resolveu ir até ao trabalho de
Jennie e esperar o horário de sua saída. Quando viu sua namorada
sair do local e caminhar até o ponto de ônibus, sentiu um pouco de
remorso. Talvez ela estivesse falando a verdade, afinal.
De
qualquer modo, a linha de ônibus que ela pegou não era a que a
levava para casa. Isso foi o suficiente para que ele continuasse a
segui-la.
Inclusive,
ela sequer tomou café naquele dia.
Victor
admite a destreza de Jennie para se arrumar em um ônibus. Ela, como
sempre, estava sensacional; mesmo de longe, ele tinha certeza disso.
A calça de couro, — que por algum motivo, não tinha tido destaque
quando ela saiu do trabalho — realçou o corpo definido de Jennie,
outro tomara-que-caia com brilho negro exaltava tanto a beleza dela
que por um segundo Victor esqueceu de estar irritado. E a maquiagem,
nossa, a pele dela já era linda, mas pintada daquela forma... Victor
sentiu que se apaixonou mais ainda ao ver os olhos dela com aquele
destaque sombrio.
Por
que você está brincando comigo, Jennie?
Assim
que a viu entrar na boate, Victor estacionou seu carro e caminhou
para a bilheteria e comprou uma entrada. Lá não era mesmo um local
que Jennie convidaria Victor. Aliás, Jennie nunca saía com ele.
Não
demorou muito para ele encontrá-la, já que ela estava em sua pose
típica de flagras: olhando, conversando, paquerando
e
dançando com outros rapazes.
Seu
namorado
— sim,
Jennie, aceite isso
— não aguentava isso e nunca, nunca deixaria uma dessas passar
enquanto eles dois tivessem um vínculo.
Com
passos fortes e rápidos, Victor puxou o braço de Jennie e
arrancou-a daquela conversa fiada com o outro rapaz.
Sol,
o homem com quem ela estava conversando, distanciou-se assim que viu
Victor puxando Jennie.
—
Eu acho, hum, que as pessoas dançam em cafés hoje em dia, não é
Jennie? — Victor perguntou com ironia enquanto apertava o braço da
moça e olhava em seus olhos.
Ela
tentou se distanciar com o braço preso nas mãos de Victor. —
Olha, Sol, desculpe... — Ela virou em busca do rapaz em quem estava
atracada
momentos
antes... — Esse aqui é o...
—
O namorado dela — Victor preferiu responder, interrompendo-a. Algo
dizia a ele que sua namorada provavelmente mentiria sobre este fato
também.
—
Por pouco tempo — Jennie falou baixo, com raiva apertando seus
dedos ao notar que Sol não estava mais lá.
—
Isso não é certo, Jennie — Victor voltou a falar, e Jennie ainda
estava de costas para ele. — Eu... Eu nem sei porquê eu ainda
gosto de você, aliás. Você me deixa e... e fica olhando para
outras pessoas! Então o que... o que eu me tornei?
Jennie
virou-se para ele.
—
Nada, Victor. Simplesmente nada — e assim ela saiu do local.
You're
playing with me, you bad.
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Pela
primeira vez desde que eles começaram a namorar, Victor veio ao Café
em frente à casa de Jennie, aquele mesmo Café que ela disse que
iria com uma amiga, mas mentiu para ir à uma balada e ser
desmascarada.
Faziam
quase três dias desde que Victor e Jennie discutiram no
estacionamento da pub
onde ela comemorou seu aniversário.
O
sms que Jennie havia enviado para Victor na noite passada fez ele vir
aqui hoje. Ele estava bastante ansioso, o rapaz estava se corroendo
de saudades dela, mas ainda havia um restante de orgulho que corria
por suas veias. Recusando-se a correr atrás da pessoa que sempre lhe
partia o coração, permaneceu com celular e internet desligados por
quase três dias.
Observando
pela vitrine, viu Jennie sair e trancar a porta de sua casa para
atravessar a rua de mão dupla e chegar ao pequeno lanche; por
instinto, Victor tentou se esconder com método de camuflagem amador,
por trás de um porta guardanapo.
Mas
aí se lembrou: ele não estava espiando Jennie. Ele teria um
encontro — ou algo do tipo, ele não sabe — com
ela.
Jennie
adentrou no local e os sinos das portas da entrada, tintilaram.
Victor teve um desespero momentâneo ao vê-la.
Não
adiantava, só o rosto de Jennie fazia Victor perder o juízo. Ele a
amava, realmente amava. O amor que ele sentia por Jennie era uma
loucura, não era meigo, chegava a ser doentio. Era possessivo, era
uma paixão de inúmeras faces: clara, sombria, amável, louca.
— Olá
— Jennie cumprimentou enquanto sentava-se na frente de Victor.
Ele
não a respondeu. Preferiu manter-se quieto, em silêncio a fim de
demonstrar a Jennie sua mágoa.
Jennie
suspirou e começou a falar:
— Então...
Eu andei pensando esses dias e...
— Ah
— Victor interrompeu a fala de Jennie —, então você não
aproveitou esses dias livres
para sair?
— Não,
eu não aproveitei. E é isso é verdade, Victor, a mais pura verdade
— o olhar cético de Victor perseguiu cada movimento dos lábios de
Jennie. Suspirando, a moça continuou: — Não... não há porque
estender isso tudo aqui mais, — falou a última parte girando a
ponta dos dedos pelo ambiente.
Victor
sentiu um tremor em seu peito. Ele sabia exatamente ao que Jennie se
referia. Ela suspirou. Havia refletido tanto... era difícil
verbalizar tudo, já que foram anos juntos. Entretanto, difícil
seria manter o que eles tinham. Por um fim àquilo tudo seria um
favor aos dois.
— Você
sabe que nossa relação esfriou, não sabe? É lamentável. Na
verdade, Victor, está sendo uma ferida à minha honra ter que
continuarmos assim, forçar, fingir para que isso soe como algo
natural. Não existe mais liberdade, não somente para mim, mas para
nós dois… entende?
Ele
entendia tudo. Sabia muito bem o tipo de liberdade pela qual Jennie
buscava; e não era algo que estava em suas mãos. O que ela ansiava
não era que ele poderia lhe oferecer. E ele? Victor não tinha
liberdade com Jennie, mesmo que ela pudesse ser o máximo liberal
possível. Independente do quão desapegada ela pudesse ser, Victor
sentia-se aprisionado a seu relacionamento com ela; fisica e
psicologicamente, e era totalmente exaustivo isso.
Ele
estava cansado, de tudo aquilo. Restava-lhe apenas concordar,
atordoado com toda a situação. Olhava com pesar para a sua eterna
querida, desejada e amada Jennie.
— Preciso
me alongar mais? Você sabe. — Ela o olhava com uma seriedade que o
rapaz jamais viu em todos esses anos de relacionamento. Ela levantou,
encaminhou-se para o lado de Victor e deu-lhe um beijo na testa,
enquanto sussurrou um adeus bem baixinho.
Um
término de poucas palavras. Ágeis, letais. Idênticos a quem as
proferiu.
Ele
acompanhou os passos libertinos da moça jovem e alegre, que tanto o
enlouqueceu por tanto tempo. Era hora de seguirem seus caminhos, cada
um. E se tudo der certo, ambos seguirão suas vidas, desapaixonados,
felizes e em paz.
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