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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Seja sincera, Jennie

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De quando eu ainda queria ser escritora. Essa song-fic (😛) eu escrevi baseada na música "GG be" do Seungri (maknae) do Big Bang; se vocês forem ler a história e comparar com a música, eu usei muitas referências. A intenção do conto, que tem mais de 5 anos, era falar um pouco de relacionamentos abusivos. Vocês verão que o Victor é praticamente maníaco, controlador e paranoico; enquanto a Jennie é  distante, fria e, muito potencialmente, infiel. Boa leitura!


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Ele a ama. Mas dói um bocado presenciar mais uma prova de mais uma mentira.
Victor estava animado, era aniversário de Jennie. Seria o momento ideal comemorarem juntos; tanto tempo de namoro, tantas brigas... poderiam ter algum momento de harmonia, um com o outro e nada seria melhor do que comemorar o aniversário ao lado de quem se ama. Mas Jennie disse que não, não daria para ela se encontrar com ele após o trabalho. O dia havia sido cansativo, tanto que o pai dela iria buscá-la no trabalho, acredita? Ela sentia muito, mas a saidinha dos dois teria de ser em outro momento.
Todavia, ela estava dançando na pista iluminada de luz monocromática, seus braços pálidos levantavam-se, balançando o tomara-que-caia preto folgado. Ela parecia contente, até demais. Seu cabelo, por algum motivo — talvez a pressa de sair de casa —, estava um caos. Mesmo assim, para desgraça de Victor, estava estupendamente charmoso; o coque solto preso por uma liga larga marrom e as mechas do cabelo despenteado estavam uma desordem.
A expressão dos olhos de Jennie passaram do vinho para água (ou da felicidade e excitação para espanto, como preferir) quando viu Victor, seu namorado, parado na escadaria que dava caminho para a pista da boate, parado, observando-a dançar.
— Te trouxe um mocha cake — "seu favorito", quis acrescentar enquanto entregou-lhe o pedaço de bolo em uma caixinha de plástico transparente.
"Seja sincera", a mente dele choramingava.
Jennie pegou, sussurrando um "oh" e guardou no bolso de seu short. Puxou Victor para dançar. Ela não ligou para o bolo, ou para Victor, ou para nada.
Sempre que esse tipo de cena acontecia — e se repetia, dela ignorar sendo flagrada em uma mentira — Victor imaginava Jennie fazendo uma dancinha desanimada e sem graça com os braços e calcanhares.
Olhar para ela fazia sua raiva nascer — e crescer — mas mesmo assim, ele continuava a gostar dela, ainda mais, muitas vezes.
E quando ela o beijou, fez a raiva diminuir, nem que fosse apenas um pouquinho.


Às quatro da manhã, após o término da festa, Jennie comia, com os dedos, o bolo que Victor havia lhe dado de presente.
Querendo ou não, Victor amava ver Jennie comendo, como ela degustava cada pedaço, cobertura e confeito do mocha cake, como chupava o recheio do doce dos dedos com satisfação, como sujava o rosto — e mesmo assim sujando mais ainda e ocasionando num sorriso tolo em seus lábios tão beijáveis —, como Victor via pelos olhos dela que tinha conseguido agradar a sua garota.
Jennie era sensacional... Quando queria. Sempre com os outros e quase nunca com Victor. Prova disso foram as inúmeras vezes que ela fora vista conversando com outros rapazes de um modo muito sugestivo, sempre com sorrisinhos e risadas forçadas e suas mãos batendo nos braços musculosos deles com certo entusiasmo exagerado, mas com Victor, a história era outra, era de uma ignorância desnecessária, gritando, empurrando, humilhando e sempre discutindo, mesmo com todos sabendo, inclusive a própria Jennie, que Victor não merecia tal deslealdade.
— E aí? — Victor finalmente havia criado coragem para poder questioná-la.
— E aí, o quê?
— Como assim o quê? — A raiva começara a colorir o rosto dele de mágoa. — Suas mentiras, Jennie.
— Eu menti? — Cobertura de café sujava o lábio superior de Jennie, angustiando Victor. — Quando?
Victor sentia raiva, beirando ao ódio quando Jennie reagia desse modo quando questionada, era sempre assim, sempre reagia da mesma forma: indisciplinada, indiferente e fazendo com que os olhos de Victor ardessem de frustração.
Ele não aguentou e pegou o lenço que tinha no bolso e limpou a boca de Jennie, os lábios recém limpos formavam um sorriso sádico e óbvio no rosto da moça.
— Hoje, Jennie! Hoje! — Victor pegou a caixa vazia do colo de Jennie onde trouxera o bolo, e apertou com tanta força que o plástico se contorceu. — É o seu aniversário, o aniversário da minha namorada e eu... eu queria apenas comemorá-lo com você! Mas... Olha, o carro preto que te deixou nessa boate não era o do seu pai.
E ele olhou para sua namorada e soube que houve algum impacto. Afinal, não era mais ela quem obtinha o controle daquela situação.
Jennie levantou-se: — Você deve estar se confundido.
— Não estou. Eu te vi saindo do carro.
— Tá, eu não queria lhe falar, mas... Papai trocou de carro.
— Eu não acredito que você chame seu pai daquela forma, meu amor.
Falar isso fez seu coração se desmanchar como tinta na água, e também fez com que Victor se sentisse a pessoa mais insignificante do mundo, pois o modo como Jennie reagiu não foi indiferente como sempre. Ela havia sido desmascarada, dessa vez não tinha como fugir disso, como as outras vezes. Victor a pegou, de fato, em uma mentira. Algo dentro dele, alegrou-se com isso, dessa vez, ele quem ganhou de Jennie. E parte dele, ainda tinha a esperança de que ela estivesse falando a verdade e ele estivesse apenas enganado.
Com um olhar amargo, Jennie empurrou o ombro de Victor e foi embora, sem nem mesmo agradecer pelo bolo — ou, ao menos, parar para se despedir do namorado. Victor jogou a caixa melada de doce no asfalto, deixando o restante do mocha se espatifar contra a rua e a chutou com força para longe.
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Houve uma vez, que Victor havia seguido Jennie uma outra ocasião antes da cena relatada acima. Ela havia sido mais esperta e disse a Victor que não sairia com ele, pois iria se encontrar com uma amiga de há muito tempo, no Café em frente à casa dela.
Por algum motivo, Victor não acreditou. Resolveu ir até ao trabalho de Jennie e esperar o horário de sua saída. Quando viu sua namorada sair do local e caminhar até o ponto de ônibus, sentiu um pouco de remorso. Talvez ela estivesse falando a verdade, afinal.
De qualquer modo, a linha de ônibus que ela pegou não era a que a levava para casa. Isso foi o suficiente para que ele continuasse a segui-la.
Inclusive, ela sequer tomou café naquele dia.
Victor admite a destreza de Jennie para se arrumar em um ônibus. Ela, como sempre, estava sensacional; mesmo de longe, ele tinha certeza disso. A calça de couro, — que por algum motivo, não tinha tido destaque quando ela saiu do trabalho — realçou o corpo definido de Jennie, outro tomara-que-caia com brilho negro exaltava tanto a beleza dela que por um segundo Victor esqueceu de estar irritado. E a maquiagem, nossa, a pele dela já era linda, mas pintada daquela forma... Victor sentiu que se apaixonou mais ainda ao ver os olhos dela com aquele destaque sombrio.
Por que você está brincando comigo, Jennie?
Assim que a viu entrar na boate, Victor estacionou seu carro e caminhou para a bilheteria e comprou uma entrada. Lá não era mesmo um local que Jennie convidaria Victor. Aliás, Jennie nunca saía com ele.
Não demorou muito para ele encontrá-la, já que ela estava em sua pose típica de flagras: olhando, conversando, paquerando e dançando com outros rapazes.
Seu namorado — sim, Jennie, aceite isso — não aguentava isso e nunca, nunca deixaria uma dessas passar enquanto eles dois tivessem um vínculo.
Com passos fortes e rápidos, Victor puxou o braço de Jennie e arrancou-a daquela conversa fiada com o outro rapaz.
Sol, o homem com quem ela estava conversando, distanciou-se assim que viu Victor puxando Jennie.
— Eu acho, hum, que as pessoas dançam em cafés hoje em dia, não é Jennie? — Victor perguntou com ironia enquanto apertava o braço da moça e olhava em seus olhos.
Ela tentou se distanciar com o braço preso nas mãos de Victor. — Olha, Sol, desculpe... — Ela virou em busca do rapaz em quem estava atracada momentos antes... — Esse aqui é o...
— O namorado dela — Victor preferiu responder, interrompendo-a. Algo dizia a ele que sua namorada provavelmente mentiria sobre este fato também.
— Por pouco tempo — Jennie falou baixo, com raiva apertando seus dedos ao notar que Sol não estava mais lá.
— Isso não é certo, Jennie — Victor voltou a falar, e Jennie ainda estava de costas para ele. — Eu... Eu nem sei porquê eu ainda gosto de você, aliás. Você me deixa e... e fica olhando para outras pessoas! Então o que... o que eu me tornei?
Jennie virou-se para ele.
— Nada, Victor. Simplesmente nada — e assim ela saiu do local.
You're playing with me, you bad.
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Pela primeira vez desde que eles começaram a namorar, Victor veio ao Café em frente à casa de Jennie, aquele mesmo Café que ela disse que iria com uma amiga, mas mentiu para ir à uma balada e ser desmascarada.
Faziam quase três dias desde que Victor e Jennie discutiram no estacionamento da pub onde ela comemorou seu aniversário.
O sms que Jennie havia enviado para Victor na noite passada fez ele vir aqui hoje. Ele estava bastante ansioso, o rapaz estava se corroendo de saudades dela, mas ainda havia um restante de orgulho que corria por suas veias. Recusando-se a correr atrás da pessoa que sempre lhe partia o coração, permaneceu com celular e internet desligados por quase três dias.
Observando pela vitrine, viu Jennie sair e trancar a porta de sua casa para atravessar a rua de mão dupla e chegar ao pequeno lanche; por instinto, Victor tentou se esconder com método de camuflagem amador, por trás de um porta guardanapo.
Mas aí se lembrou: ele não estava espiando Jennie. Ele teria um encontro — ou algo do tipo, ele não sabe — com ela.
Jennie adentrou no local e os sinos das portas da entrada, tintilaram. Victor teve um desespero momentâneo ao vê-la.
Não adiantava, só o rosto de Jennie fazia Victor perder o juízo. Ele a amava, realmente amava. O amor que ele sentia por Jennie era uma loucura, não era meigo, chegava a ser doentio. Era possessivo, era uma paixão de inúmeras faces: clara, sombria, amável, louca.
Olá — Jennie cumprimentou enquanto sentava-se na frente de Victor.
Ele não a respondeu. Preferiu manter-se quieto, em silêncio a fim de demonstrar a Jennie sua mágoa.
Jennie suspirou e começou a falar:
Então... Eu andei pensando esses dias e...
Ah — Victor interrompeu a fala de Jennie —, então você não aproveitou esses dias livres para sair?
Não, eu não aproveitei. E é isso é verdade, Victor, a mais pura verdade — o olhar cético de Victor perseguiu cada movimento dos lábios de Jennie. Suspirando, a moça continuou: — Não... não há porque estender isso tudo aqui mais, — falou a última parte girando a ponta dos dedos pelo ambiente.
Victor sentiu um tremor em seu peito. Ele sabia exatamente ao que Jennie se referia. Ela suspirou. Havia refletido tanto... era difícil verbalizar tudo, já que foram anos juntos. Entretanto, difícil seria manter o que eles tinham. Por um fim àquilo tudo seria um favor aos dois.
Você sabe que nossa relação esfriou, não sabe? É lamentável. Na verdade, Victor, está sendo uma ferida à minha honra ter que continuarmos assim, forçar, fingir para que isso soe como algo natural. Não existe mais liberdade, não somente para mim, mas para nós dois… entende?
Ele entendia tudo. Sabia muito bem o tipo de liberdade pela qual Jennie buscava; e não era algo que estava em suas mãos. O que ela ansiava não era que ele poderia lhe oferecer. E ele? Victor não tinha liberdade com Jennie, mesmo que ela pudesse ser o máximo liberal possível. Independente do quão desapegada ela pudesse ser, Victor sentia-se aprisionado a seu relacionamento com ela; fisica e psicologicamente, e era totalmente exaustivo isso.
Ele estava cansado, de tudo aquilo. Restava-lhe apenas concordar, atordoado com toda a situação. Olhava com pesar para a sua eterna querida, desejada e amada Jennie.
Preciso me alongar mais? Você sabe. — Ela o olhava com uma seriedade que o rapaz jamais viu em todos esses anos de relacionamento. Ela levantou, encaminhou-se para o lado de Victor e deu-lhe um beijo na testa, enquanto sussurrou um adeus bem baixinho.
Um término de poucas palavras. Ágeis, letais. Idênticos a quem as proferiu.
Ele acompanhou os passos libertinos da moça jovem e alegre, que tanto o enlouqueceu por tanto tempo. Era hora de seguirem seus caminhos, cada um. E se tudo der certo, ambos seguirão suas vidas, desapaixonados, felizes e em paz.

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