Eu fiz um post
perguntando quais livros nacionais eram os favoritos da galera que ali
comentaria, muitos responderam que “gostavam de tal livro, contudo, a escola”
meio que os traumatizou no que cerne esse assunto. Não mentirei, eu também tive
episódios traumáticos quanto a isso; quer dizer, fui salva no 3º ano do Ensino
Médio em que a professora de Literatura conseguiu nos contextualizar de algumas
obras ali – e eu conheci a Raquel de Queiroz, a única mulher na lista de
leituras obrigatórias de um dos vários vestibulares que eu faria naquele ano.
Sem contar que, cursando Letras – Língua e Literatura Portuguesa/Brasileira, eu
iria me deparar TODO SEMESTRE (claro, né?) com obras nacionais.
O Ensino Médio pode nos traumatizar de diversas maneiras
(relacionamentos, amizades, autoimagem, conflitos pessoais e extras pessoais e
por aí vai) e é capaz de tornar o hábito da leitura uma sentença de morte para
muitos alunos. Isso é maléfico em diversos níveis, principalmente quando
podemos perder o interesse e a oportunidade de conhecer autores incríveis e
desconhecer as diversas histórias que eles podem nos contar (alguns nomes para
vocês pesquisarem e se encantarem: Lima Barreto, Graciliano Ramos, Euclides da
Cunha, Martha Batalha, Natália Borges e tem uma infinidade desses mais).
Pensando nisso, eu separei alguns contos – é o texto que tem começo, meio e fim
em uma só leitura, é rápido e que apresenta poucos personagens, tudo o
suficiente para ter dimensão da história e saber que rumo ela tomou – de autores
brasileiros que conseguem, além de nos entreter, mostrar a profundidade
prazerosa da leitura que só a Literatura Brasileira consegue nos conceder.
(Vou apresentar os contos e os livros em que eles estão
publicados; eu me permitirei falar sobre o que os contos abordam, não me
estendendo muito sobre suas histórias para respeitar a futura experiência de
cada futuro leitor)
·
Verde lagarto amarelo,
da Lygia Fagundes Telles:
A
LFT é uma das nossas maiores escritoras vivas; é dona de grandes títulos, entre
eles Ciranda de Pedra e As Meninas. A narrativa da Lygia, por vezes,
trabalha com um realismo-fantástico e misterioso saboroso de se ler. Mas esse
conto que eu selecionei aqui discute outros pontos, sendo um dos principais:
conflitos familiares, também questiona o sentido (e imposição) de fraternidade,
admiração e inveja (por que não?), e a linha cronológica é harmônica com os
fatos apresentados, assim construindo o raciocínio entregue dentro da história
compartilhada entre os dois irmãos. É um dos meus favoritos da Lygia.
·
Você vai voltar pra mim,
Bernardo
Kucinski:
Esse
eu não falarei do que se trata diretamente porque esse conto é o que mais tem plot twist dos selecionados dessa lista.
Mas o Kucinski teve uma irmã que desapareceu no período da Ditadura Militar
aqui no Brasil, então a partir desse fato, podemos encontrar em seus escritos
muitas verdades histórias que abordam corrupção brasileira, perseguição
ideológica, a sua narrativa explicita as faces do fascismo alinhado no discurso
de “orgulho nacional”, injustiça e uma lembrança pulsante do que foi a Ditadura
no nosso país e porque nunca, jamais devamos desejar à volta esse capítulo
infeliz da nossa história – ou permitir que isso se repita.
·
Quantos filhos Natalina teve?, Conceição Evaristo:
Conceição
Evaristo nos apresenta a face dos que são silenciados e marginalizados pelo
sistema racista e elitista que rege nosso país e sociedade. A narrativa de
Evaristo traz o discurso daqueles que são marginalizados, mas que, em alguns
momentos, podem encontrar a beleza e graça da vida, ainda que algum fim infeliz
o encontre em seguida; com metáforas, Conceição Evaristo nos expõe a realidade,
à dor, a poética e a riqueza de histórias que o excluído tem e deve falar. Com
o seu texto é impossível não refletir sobre o que se leu e, ainda mais,
impossível não se revoltar. Quantos
filhos Natalina teve? aborda a liberdade de escolha, consciência de corpo e
desejos que a Natalina tem em sua trajetória (presta atenção na palavra-chave:
Natalina – natalidade)
·
He Man, Lia
Vieira
Provavelmente
de todos os contos, esse foi o que mais me tocou. He Man expõe desigualdade social e revolta, além de também trazer uma
reflexão bem gritante de como o Natal e seu conceito é complexo e diferente
entre as duas famílias apresentadas. O tapa na cara que o conto apresenta é
sutil e bastante doloroso, pois nos põe em uma situação urgente que tem como
objetivo preocupante, porém compreensível.
·
Uns Braços e Missa do Galo, do único e maior Machado
de Assis
Vou
me permitir brincar um pouquinho aqui e dizer que esses dois contos do Machado
de Assis são coming-of-age ao
apresentar dois rapazes, cada um em seu conto, que, em diálogos profundos e com
conotação subversiva são capazes de nos por para refletir sobre valores,
sociedade, casamento e imposições sociais. São contos que eu considero sensuais
– à maneira Machadiana de narrar – e que igualmente irônicos. Se fosse possível
eu me transportar para alguma dimensão ou ressuscitar alguém, eu faria o
possível para ir em algum cafezinho e papear com o Machado de Assis,
extremamente lendário.
Não conhecia o primeiro conto indicado!!! ja vou sair a procura para le-lo, adorei a iniciativa!!!! Estou sempre lendo algo nacional, e uma das metas desse ano!
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