O lado bom de
fazer uma pesquisa científica voltada para o que eu gosto é que tudo que eu
assisto pode ser uma fonte em potencial. Por isso, sem querer querendo, acabei
assistindo ao documentário Miss
Representation (2011) que apresentou como as redes televisivas e o rádio
não colaboram para que as mulheres tenham voz e que não sejam resumidas a
roupas sensuais e números de manequins.
Com uma
equipe majotariamente formada por mulheres (produtoras, editoras, diretora,
roteirista), o documentário segue uma linha de diálogo extremamente didática e
poderosa, com dados e estatísticas alarmantes sobre a saúde psíquica e representação da mulher no setor público. Inicialmente, são apresentadas várias perspectivas de como a mídia
nos atinge: meninas e mulheres
insatisfeitas com o próprio corpo, almejando padrões inalcançáveis; cirurgias
desnecessárias são feitas em meninas ainda em estado de desenvolvimento; como a
televisão exige a maturidade de uma criança (a menina deve exigir de si própria
o corpo da Barbie, e o menino aprenderá que é aquilo que ele deverá exigir
delas); como comerciais teoricamente inocentes sexualizam as mulheres no ponto
de vista de um menino; por sermos tão exaustivamente incentivadas a nos
maquiarmos, a nos “cuidarmos”, malharmos e outras mais obrigações socialmente
impostas; esquecemos de nutrir nosso intelecto – que é um investimento a longo
prazo e com resultados possivelmente permanentes. E como tudo isso faz com que
mulheres odeiem seus corpos e suas mentes a adoeçam e queiram a morte com todo
este cenário caótico.
Em seguida, é
discorrido como as mulheres são praticamente proibidas de emergirem no cenário
político: ao demonstrarem ambição, as mulheres se tornam o alvo de ódio de
homens poderosos. Enquanto os candidatos homens são questionados, avaliados e
apresentados pelo seu intelectual, potencial, experiência e histórico, as
mulheres que competem no meio político (que são um número praticamente inexistente
em comparação aos dados masculinos) são expostas nas manchetes por serem sexy,
masturbáveis, por exporem muito as pernas ou por serem “masculinas demais”).
Uma das imagens usadas contra ela em 2008 |
Muito se
trabalhou quanto a candidatura de Hillary Clinton ao Senado (cargo a qual foi
eleita) e Presidência (que perdeu na primeira candidatura por Barack Obama que,
na segunda tentativa, teve seu apoio), em vez de discutirem e divulgarem seu
histórico como advogada renomada que lutou pelos direitos das mulheres e das
crianças estadunidenses, a mídia norte-americana não cansou de falar que, suas
conquistas, não foram por mérito próprio – e sim por ter sido esposa do ex presidente Bill Clinton. Uma coisa que eu
não pude deixar de fazer paralelo foi com a situação da nossa presidenta Dilma
Rousseff que, assim como Hillary, foi alvo de chacota e críticas por ter uma
posição mais centrada, dura e, até mesmo, pelas roupas que usava. E quando
demonstrava alguma emoção, era alvo de ataques (vide os casos delas duas terem
chorado em público em diferentes situações).
Outra cena
que eu não pude deixar de fazer paralelo da Hillary/Dilma foi quando Hillary
concorrendo ao mesmo tempo com a Governadora Sarah Palin (não eram para os mesmos
cargos, mas as comparações entre as duas ainda assim existiram), sofreu muito hate por não ser tão feminina quando
oponente. A Governadora nutria uma imagem bastante delicada, com joias, roupas “fashion”, bem maquiada e tudo mais; nos
programas de humor e políticos, falavam que ela era uma boa fonte para uma boa
masturbação... Enfim. A situação da Dilma, logo após o golpe, foi quando a
Marcela Temer fez uma fala pública e os elogios a ela foram diversos: bela,
recatada e do lar; enquanto imagens de Dilma foram expostas em piadas
gordofóbicas comparando sua roupa a capa do botijão de gás e fazendo apologias
ao estupro no tanque do carro. O que eu acho interessante disto tudo era que,
Marcela ocupando um espaço de poder menor, foi consagrada. Dilma, desde seu
primeiro mandato – sem aval ainda para críticas mais pesadas sobre seu
desempenho –, foi alvo de diversas críticas. Todos sabemos que o jogo aqui
presente, desde Dilma/Marcela, Hillary/Sarah ia muito além de suas intenções
políticas; era sobre quem eram elas, pelo que elas se posicionam e para quem
elas governariam – sem contar que, qual posição de poder elas teriam.
Muitas
entrevistas e falas são concedidas: meninas que sonham em governar – mas como?
Poucas são seus exemplos para isso: até o ano em que foi feito (2011), os EUA
tiveram apenas 34 governadoras em toda a sua história, contra os mais de DOIS
MIL homens do mesmo cargo (aqui no Brasil, nas eleições desse ano, se não fosse
por Fátima Bezerra, seria a primeira vez em quase 3 décadas que o país não
veria uma mulher neste cargo). Por isso, uma das mensagens mais belas do
documentário é para não esperarmos que alguém seja nosso exemplo ou motivação,
mas, sim para que nós sejamos isto. Muitas
meninas lamentando a pressão que sofrem por seus corpos não seguirem os padrões
do photoshop (alisamento de cabelo,
toneladas de maquiagem, machucados por tristeza e outras mais consequências
infelizes).
Heleieth
Saffioti diz em Gênero, Patriarcado,
Violência (2003) que é necessário empoderar uma mulher, ainda mais em uma situação
extremamente vulnerável que tantas se encontram aqui no Brasil, exatamente para
que elas saibam que são capaz, devem e podem ser maiores – bem maiores do que
elas próprias acreditam. O documentário, já nos créditos, mostra várias
pequenas atitudes que podem soar com o empoderamento tão conhecido hoje: não
assista mais aqueles programas que só buscam alimentar a ideia de que se uma
mulher quando se impõe é louca (afinal, homens podem gritar quando querem, mas
uma mulher quando chega ao seu limite e o externaliza, é histérica, louca,
doente), não hesitar em corrigir – ou chamar a atenção mesmo – de seus amigos
enquanto estiverem sendo misóginos/sexistas/machistas, assista a filmes produzidos/dirigidos/protagonizados por mulheres e, principalmente, sempre
acreditar em si mesma e saber que o seu externo estará saudável quando o
interno estiver bem também.
Ei! O filme é uma ong, visite: http://therepresentationproject.org/
Ei! O filme é uma ong, visite: http://therepresentationproject.org/
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