O Sol também é uma estrela retrata a doçura e imensidão do acaso e
como o poder das nossas escolhas, palavras, atitudes e passos no dia-a-dia
definem o nosso destino. Com isso em mente, saibamos que o livro retrata um
único dia que, para muitos, é só mais um dia de enfrentar filas, encarar o
trabalho, pagar contas, tentar chegar a tempo na escola, pegar o ônibus – e
torcer para que tenha um lugar vago, no lado da sombra, para se sentar -, e
outras mais eventos frequentes no cotidiano de qualquer pessoa.
A
não ser que o tal dia seja o dia em que:
1) você
terá sua família deportada de volta para a Jamaica, afinal, você está há quase
10 anos ilegalmente nos EUA e, neste fucking
dia, você fará o possível para que o seu destino seja mudado – de uma forma
positiva, é claro. Enquanto você está desesperada, sua família talvez anseie
pela volta ao país de origem. Mas quem sabe, o seu caso seja o 2), em que hoje
é o dia da sua entrevista para a segunda maior faculdade dos Estados Unidos e
seus pais, aqueles que são de uma primeira geração de imigrantes sul-coreanos,
querem que você faça Medicina..., mas a sua paixão é escrever, seu sonho é tentar
entender o que a poesia carrega e viver disso; além de ter passado a vida sob
os holofotes do irmão mais velho babaca que conseguiu ser suspenso em Harvard
e, por isso, querer determinada emancipação. Respectivamente, o caso 1) e o
caso 2) retratam o dia da Natasha e do Daniel, nosso casal de protagonistas que
explodem nesse incrível enredo. E eu e mais outros minis relatos trabalhados no
livro, somos o caso 3), aqueles que assistem, envolvem-se indiretamente no rumo
da história desses dois e ainda assim, conseguem ter uma história completa
dentro de poucas páginas voltadas a eles.
Com
a Natasha, conhecemos a moça forte, decidida e cética que busca o melhor que o
EUA pode lhe oferecer – uma evidente estabilidade e um mar de oportunidades.
Nós a conhecemos em um dia cheio, em que às 22h daquele dia, ela sairá dos EUA,
para uma terra, que ela deveria ter como lar, mas a desconhece. Vimos uma
Natasha que apresenta uma carranca meio amarga e mal-humorada, mas, na verdade,
carrega muitos medos, inseguranças e mágoas. Não que a personagem se resuma a
isso, mas é o que aquele momento da vida tem a oferecer sobre ela. Descobrimos
que apesar da casca dura, a Natasha se mostra com uma personalidade única,
sonhadora e acredita na própria capacidade. Sua revolta em voltar a Jamaica se
resume unicamente no pressuposto de não ter as mesmas oportunidades que teria
ao permanecer no EUA, pois não quer ter de viver o mesmo destino de sua
família, a da pobreza. Carrega consigo o orgulho da sua cor, de suas raízes
afro e encara com raiva quando resumem a sua cultura em mais um elemento
comercial. Ela é o elemento realista, que até tende a ser pessimista, do
enredo.
Já
Daniel nos mostra uma outra perspectiva: diferente de Natasha, a família de
Daniel está nos EUA de forma legal e detém relativa estabilidade financeira no
país. Ele cresceu ao escanteio, sob a sombra do irmão mais velho que destila
ódio e indiferença a tudo, todos e, principalmente, à própria família. Daniel
cresceu diante da conduta de criação sul-coreana, rígidos e exigentes, mas ele
carrega consigo desejos, sonhos e uma personalidade afável e delicada,
diferente da exigida por seus pais ou como seu irmão se porta. Ele revela o
otimismo dentro da narrativa, a esperança na liberdade de poder acreditar nos
próprios sonhos e nutre consigo a paixão por acreditar no destino e nos acasos
oferecidos pela vida. Eu meio que estranhei a atitude dele pseudo-perseguir a
Natasha até determinado momento em que eles passam a seguir o mesmo caminho; mas
se ela não crisou com isso até o final do livro, quem sou eu?
Sim, eu rabisco meus livros. Sim, eu escrevi um 15 ali para indicar qual era o século... e sim, eu desenho mega bem. |
Assim
como as duas perspectivas dos dois protagonistas elaboram a obra, vemos a
terceira ali em cima citada que colabora para uma experiência de leitura sem
igual: o ponto de vista do Destino. Tal detalhe da narrativa se mostra
essencial já vemos o quanto a simplicidade que esse papel exerce é primordial
para o fluxo da história. A partir de seu ponto de vista, encontramos as
histórias de personagens que, em primeiro momento na história, não teriam
espaço concedido para entendermos a sua essência. E para isso, um ou mais
capítulos exclusivos são reservados para que eles possam nos mostrar a riqueza
e importância de participarem tanto do livro, quanto do destino que eles ajudaram
a criar entre Natasha e Daniel. Além desses personagens extras na história
(sejam eles a segurança depressiva Irene, o advogado Jeremy e sua secretária, o
motorista bêbado e etc), vemos também expressões sendo contextualizadas,
sentimentos sendo desenvolvidos e atitudes explicadas ganham capítulos
especiais para que possam ser interpretados dentro do sentido da história. O
meu favorito é o da foto, que explica uma história sobre o cabelo e a relação
dele com a Natasha.
Quanto
a mais detalhes, podemos ver que a Natasha é muito observadora – e não é atoa
que notou mais de vinte Fatos Observáveis -, e o Daniel é um amante de parênteses.
Como ambos os pais dos dois jovens são imigrantes, e por mais duros que eles
sejam (principalmente os pais de Daniel), tudo que eles desejam aos filhos têm
uma razão. Eles viveram a pobreza, eles sabem o quanto ela é dura, e por isso,
mais do que tudo na vida e pelo amor que eles sentem a sua família, não desejam
nada daquilo para as suas crias e por isso tanta cobrança e posturas duvidosas.
O
livro todo gira em torno do acaso, do destino, do poder que as nossas escolhas
têm. A capa e o título são grandes sinônimos disso, a explosão representada na
capaz faz referências às possibilidades e ao não planejado. Como a nossa vida
gira ao redor de milhares de consequências – e nós sequer notamos isso.
Nota: ⭐⭐⭐⭐1/2
A autora com sua família 💛 |
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